domingo, 30 de setembro de 2012

Antes que elas cresçam


Cheguei neste blog Turquezza Variedade e achei lindo esse texto e trouxe para apreciarem...Aproveitem!!

Há um período em que os pais vão ficando órfãos dos próprios filhos.
É que as crianças crescem. Independentes de nós como árvores, tagarelas e pássaros estabanados, Elas crescem sem pedir licença. Crescem como a inflação independente do governo e da vontade popular. Entre os estupros dos preços os disparos dos discursos e o assalto das estações elas crescem com uma estridência alegre e, às vezes, com alardeada arrogância.
Mas não crescem todos os dias, de igual maneira; crescem, de repente.
Um dia se assentam perto de você no terraço e dizem uma frase de tal maturidade que você sente que não pode mais trocar as fraldas daquela criatura.
Onde e como andou crescendo aquela danadinha que você não percebeu? Cadê aquele cheirinho de leite sobre a pele? Cadê a pazinha de brincar na areia, as festinhas de aniversário com palhaços, amiguinhos e o primeiro uniforme do maternal?
Ela está crescendo num ritual de obediência orgânica e desobediência civil. E você está agora ali na porta da discoteca esperando que ela não apenas cresça, mas apareça. Ali estão muitos pais ao volante, esperando que saiam esfuziantes sobre patins, cabelos soltos sobre as ancas. Essas são as nossas filhas, em pleno cio lindas potrancas.
Entre hambúrgueres e refrigerantes nas esquinas lá estão elas com o uniforme de sua geração: incômodas mochilas da moda nos ombros ou então com a suéter amarrado na cintura. Está quente a gente diz que vão estragar o suéter, mas não tem jeito, é o emblema da geração.
Pois ali estamos depois do primeiro e do segundo casamento com essa barba de jovem executivo ou intelectual em ascensão as mães às vezez, já com a primeira plástica e o casamento recomposto. Essas são as filhas que conseguimos gerar e amar apesar dos golpes dos ventos, das colheitas, das notícias e da ditadura das horas. E elas crescem meio amestradas vendo como redigimos nossas teses e nos doutoramos nos nossos erros.
Há um período em que os pais vão ficando órfãos dos próprios filhos.
Longe já vai o momento em que o primeiro mênstruo foi recebido como um impacto de rosas vermelhas. Não mais as colheremos nas portas das discotecas e festas quando surgiam entre gírias e canções. Passou o tempo do balé, da cultura francesa e inglesa. Saíram do banco de trás e passaram para o volante de suas próprias vidas. Só nos resta dizer “bonne route, bonne route”, como naquela canção francesa narrando a emoção do pai quando a filha oferece o primeiro jantar no apartamento dela.
Deveríamos ter ido mais vezes à cama delas ao anoitecer para ouvir sua alma respirando conversas e confidências entre os lençóis da infância e os adolescentes cobertores daquele quarto cheio de colagens posteres e agendas coloridas de pilô. Não, não as levamos suficientemente ao maldito “drive-in”, ao Tablado para ver “Pluft”, não lhes demos suficientes hambúrgueres e cocas, não lhes compramos todos os sorvetes e roupas merecidas.
Elas cresceram sem que esgotássemos nelas todo o nosso afeto.
No princípio subiam a serra ou iam à casa de praia entre embrulhos, comidas, engarrafamentos, natais, páscoas, piscinas e amiguinhas. Sim, havia as brigas dentro do carro, a disputa pela janela, os pedidos de sorvetes e sanduíches infantis. Depois chegou a idade em que subir para a casa de campo com os pais começou a ser um esforço, um sofrimento, pois era impossível deixar a turma aqui na praia e os primeiros namorados. Esse exílio dos pais, esse divórcio dos filhos, vai durar sete anos bíblicos. Agora é hora de os pais na montanha terem a solidão que queriam, mas, de repente, exalarem contagiosa saudade daquelas pestes.
O jeito é esperar. Qualquer hora podem nos dar netos. O neto é a hora do carinho ocioso e estocado, não exercido nos próprios filhos e que não pode morrer conosco. Por isso, os avós são tão desmesurados e distribuem tão incontrolável afeição. Os netos são a última oportunidade de reeditar o nosso afeto.
Por isso, é necessário fazer alguma coisa a mais, antes que elas cresçam.

Affonso Romano de Sant'Anna

sábado, 29 de setembro de 2012

Na arte do amor




O amor é uma arte e buscamos constantemente deixá-lo perfeito.Como todo artista sempre vai ver algo que está faltando, que não está bem definido, que falta algo a mais.
Mas o que os meus olhos veem, outros olhos verão diferente.
A minha perfeição pode ser torta.Ser redonda ou até mesmo quadrada.
Tudo depende de quem consegue olhar com amor, sem perceber a perfeição do artista.
Eu procuro buscar a arte do amor em pequenas coisas do nosso dia.
Quando o sol está brilhando, quando a chuva molha as plantas, quando me sinto em paz!
É uma arte, é só buscar!

Bel Rech

domingo, 23 de setembro de 2012

Seu cheiro


Passei pelo corredor e senti seu cheiro...tinha certeza que tinha voltado!
Entrei quarto à dentro te buscando e nada...
As cortinas mexiam-se suavemente pelo vidro entreaberto, era dali que vinha seu cheiro que já não estaria entre os lençóis macios de nossa cama.
Percebi que seu cheiro ficaria por muito tempo por ali, mas não percebi que não o teria mais.
Quando foste embora, deixastes claro que não voltaria, que tudo tinha acabado e que tudo fora ilusão de sua parte.
E de minha parte foi muito real e absurdamente incontrolável o amor que sentia e ainda insiste em existir por um alguém que nunca merecerá esse amor.
Mas quem controla o que vai dentro do coração?
Não tem nenhum botão que desliga quando alguém parte de nossas vidas, deixando um vazio, somente o cheiro único e altamente perigoso.
Fechei a janela e voltei pelo mesmo corredor e já não sentia mais seu cheiro...

Bel Rech

sábado, 22 de setembro de 2012

Sinto...


Sinto, nos lugares onde a pele da alma se torna mais sensível, o efeito nocivo de palavras ditas sem cuidado, lançadas ao vento como se não possuíssem peso, nem espinhos.

Se quem fala soubesse a potência do veneno que certas frases podem carregar consigo…
Frases vomitadas, literalmente, em pessoas escolhidas sabe-se lá como.
Equilibrista que sou ( e que somos todos nós), tenho andado sobre linhas finas e irriquietas, oscilando entre quedas e equilíbrios, em luta constante para além de me manter respeitosamente de pé, ir adiante.
Quando finalmente consegui encontrar um ritmo para prosseguir de forma mais ou menos segura, surgiu alguém que se escondia por detrás de alguma escuridão e me jogou palavras dolorosas que me enfraqueceram. Um desânimo tão grande que é quase um recomeço, como vários outros que enfrentamos pela vida.
Que Deus proteja os lábios que dizem sem pensar.
Que um dia eles compreendam que muito mais grandioso do que aparecer aos olhos dos homens é não ferir!

No meio das defesas todas, havia algo que não se defendia, não sabia como se defender, não conseguiria, ainda que tentasse. Havia algo delicioso de se sentir que escorregava de dentro da gente e se esparramava no sorriso. Escapulia no olhar. Cantava no silêncio. Fazia florescer pés de sol no tempo encantado em que estávamos juntos. Dispensava nomes e entendimentos. Havia algo que tinha um cheiro inconfundível de alegria. De vida abraçada. De chuva quando beija a aridez. De lua quando é cheia e o céu diz estrelas. Um cheiro da paz risonha do encontro que é bom.

Ana Jácomo

quinta-feira, 20 de setembro de 2012

Coragem


Imagem via tumblr

"Não é preciso agendar, entrar em fila, contar com a sorte, acordar cedo para pegar senha: a possibilidade de recomeço está disponível o tempo todo, na maior parte dos casos. Não tem mistério, ela vem embrulhada com o papel bonito de cada instante novo, essa página em branco que olha pra gente sem ter a mínima ideia do que escolheremos escrever nas suas linhas.

O que é preciso mesmo é coragem para abrir o presente."



(Ana Jácomo)

quarta-feira, 19 de setembro de 2012

Coração partido



Imagem via tumblr

Gostaria de abrir as portas e janelas do meu coração e deixar entrar o ar para renovar o que está dentro de mim.
Algo impede, algo me aprisiona...
Não sei como expor tantos sentimentos embaralhados pelo tempo.
Tempo este que não mais voltará e que não trará meu sorriso aberto e espontâneo.
O que me deixou assim?
Marcas de um amor mal cicatrizado, revolta por não ter sido com quem eu queria e como eu queria?
A gente tenta disfarçar, esconder o que vai no coração.Mas lá dentro ele está pulsando e machucando.
Não há nada que possa desfazer, não há nada que possa remendar.
O amor é tudo e ao mesmo tempo nada.
Se o temos é o infinito, se não o temos como deveria ser, ele vai te matando aos poucos.
Acaba com teus sonhos, com teus desejos.
Se pudesse abrir de verdade para que o ar e o sol entrasse e levasse tudo  o que ficou guardado por tantos anos.
Sim eu teria um pouco de paz, teria uma verdadeira chance de sorrir novamente com o mesmo brilho daquele tempo que não volta mais....

Por Bel Rech

terça-feira, 18 de setembro de 2012

O sofrimento do hipócrita



Imagem de Bel Rech

Ter mentido é ter sofrido. 0 hipócrita é um paciente na dupla acepção da palavra; calcula um triunfo e sofre um suplício. A premeditação indefinida de uma ação ruim, acompanhada por doses de austeridade, a infâmia interior temperada de excelente reputação, enganar continuadamente, não ser jamais quem é, fazer ilusão, é uma fadiga. Compor a candura com todos os elementos negros que trabalham no cérebro, querer devorar os que o veneram, acariciar, reter-se, reprimir-se, estar sempre alerta, espiar constantemente, compor o rosto do crime latente, fazer da disformidade uma beleza, fabricar uma perfeição com a perversidade, fazer cócegas com o punhal, por açúcar no veneno, velar na franqueza do gesto e na música da voz, não ter o próprio olhar, nada mais difícil, nada mais doloroso. 0 odioso da hipocrisia começa obscuramente no hipócrita. Causa náuseas beber perpétuamente a impostura. A meiguice com que a astúcia disfarça a malvadez repugna ao malvado, continuamente obrigado a trazer essa mistura na boca, e há momentos de enjôo em que o hipócrita vomita quase o seu pensamento. Engolir essa saliva é coisa horrível. Ajuntai a isto o profundo orgulho. Existem horas estranhas em que o hipócrita se estima. Há um eu desmedido no impostor. 0 verme resvala como o dragão e como ele retesa-se e levanta-se. 0 traidor não é mais que um déspota tolhido que não pode fazer a sua vontade senão resignando-se ao segundo papel. É a mesquinhez capaz da enormidade. 0 hipócrita é um titã-anão.

(Victor Hugo, em O Sofrimento do Hipócrita.)

segunda-feira, 17 de setembro de 2012

quarta-feira, 12 de setembro de 2012

Mesmo assim



Imagem do Google

Vivemos um momento na face da Terra que, por vezes, parece que todos os valores morais estão em baixa.

E você, que está buscando construir suas mais nobres virtudes, em muitos momentos se sente enfraquecido pelo próprio mundo à sua volta.
Quando age com honestidade, comentam que você é tolo, que está remando contra a maré, em vez de fazer o que todo mundo faz. Mas se você quer ser grande perante sua consciência, seja honesto mesmo assim.
Se procura balizar seus atos na justiça, ouve que essa atitude é a de um alienado, vivendo num mundo em que vence sempre o mais forte. No entanto, seja justo mesmo assim.
Se está construindo um lar apoiado nas colunas sólidas da fidelidade, é comum ouvir gargalhadas insanas ou comentários maldosos a respeito do seu comportamento. Seja fiel mesmo assim.
Quando seu coração se compadece, diante dos infelizes de toda sorte, não falta a zombaria daqueles que pensam que cada um deve pensar em si próprio, ignorando os sofrimentos dos irmãos de caminhada. Tenha compaixão mesmo assim.
Se você dedica algumas horas do seu dia, voluntariamente, em favor de alguém, rico ou pobre, que precisa da sua atenção e do seu carinho, percebe as investidas da maldade daqueles que pensam que nos seus atos há uma segunda intenção. Seja fraterno e solidário mesmo assim.
Quando você age com sinceridade, com lealdade, é comum ser taxado de insensato, fugindo do comum em que muitos usam de subterfúgios mesquinhos para conseguir o que desejam. Seja sincero e leal mesmo assim.
Se, diante das circunstâncias do dia-a-dia, você revela sua fé em Deus e em Suas soberanas Leis, e é chamado de piegas ou crédulo, mantenha sua fé mesmo assim.
Se em face de tantos desatinos no campo da sensualidade e na falta de decoro que assola grande parte dos seres, você deseja manter-se íntegro e recatado e é chamado de louco mantenha-se íntegro e recatado mesmo assim.
Quando aqueles que se julgam acima do bem e do mal tentam apagar a chama da esperança que você acalenta no íntimo, afirmando que a esperança é a ilusão da mediocridade, mantenha a esperança mesmo assim.
E, por fim, mesmo que alguém tente roubar a sua coragem de continuar lutando e acreditando em dias melhores, mantenha sua coragem e continue acreditando mesmo assim.
Um dia, sua jornada aqui na Terra, vai terminar. E só então, você poderá contemplar a ficha de avaliação do seu desempenho. Somente você será responsabilizado por seus atos. E tenha a certeza de que todos aqueles que tentaram desviá-lo do caminho reto não estarão lá para lhe dar apoio...

(Desconheço a autoria)


segunda-feira, 10 de setembro de 2012

O Grande ditador


O filme é bem antigo, preto e branco, perfeito como Charlie Chaplin...Interessante e cômico do inicio ao fim com um discurso emocionante, que eu diria bem atual para nossa época que estamos vivendo.
Imagem do Google

"Sinto muito, mas não pretendo ser um imperador. Não é esse o meu ofício. Não pretendo governar ou conquistar quem quer que seja. Gostaria de ajudar todos, se possível, judeus, gentios… negros… brancos.Todos nós desejamos ajudar uns aos outros. Os seres humanos são assim. Desejamos viver para a felicidade do próximo, não para o seu infortúnio. Por que temos de nos odiar e desprezar uns aos outros?
Neste mundo há espaço para todos. A terra, que é boa e rica, pode prover a todas as nossas necessidades.
O caminho da vida pode ser o da liberdade e da beleza, porém, desviamo-nos dele. A cobiça envenenou a alma dos homens… levantou no mundo as muralhas do ódio… e tem-nos feito marchar a passo de ganso para a miséria e os morticínios.
Criamos a época da produção veloz, mas sentimo-nos enclausurados dentro dela.
A máquina, que produz em grande escala, tem provocado a escassez. Os nossos conhecimentos fizeram-nos céticos; a nossa inteligência, empedernidos e cruéis. Pensamos em demasia e sentimos bem pouco.
Mais do que máquinas, precisamos de humanidade; mais do que de inteligência, precisamos de afeição e doçura! Sem essas virtudes, a vida será de violência e tudo estará perdido.

"Charles Chaplin  no seu discurso no  filme “O Grande Ditador”